As flores da morte
Conta-se que uma moça estava muito doente e teve
que ser internada em um hospital. Desenganada pelos médicos, a família não
queria que a moça soubesse que iria morrer. Todos seus amigos já sabiam. Menos
ela. E para todo mundo que ela perguntava se ia morrer, a afirmação era negada.
Depois de muito receber visitas, ela pediu durante
uma oração que lhe enviassem flores. Queria rosas brancas se fosse voltar para
casa, rosas amarelas se fosse ficar mais um tempo no hospital e estivesse em
estado grave, e rosas vermelhas se estivesse próxima sua morte.
Certa hora, bate a porta de seu quarto uma mulher e
entrega a mãe da moça um maço de rosas vermelhas murchas e sem vida. A mulher
se identifica como "mãe da Berenice". Nesse meio de tempo, a moça que
estava dormindo acordou, e a mãe avisou pra ela que a mulher havia deixado o
buquê de rosas, sem saber do pedido da filha feito em oração.
Ela ficou com uma cara de espanto quando foi
informada pela mãe que quem havia trazido as rosas era a mãe da Berenice. A
única coisa que a moça conseguiu responder era que a mãe da Berenice estava
morta há 10 anos.
A moça morreu naquela mesma noite. No hospital
ninguém viu a tal mulher entrando ou saindo.
Casa dos Rostos
Ao entrar em sua modesta cozinha em uma abafada
tarde de agosto de 1971, Maria Gomez Pereira, uma dona de casa espanhola,
espantou-se com o que lhe pareceu um rosto pintado no chão de cimento.
Estaria ela sonhando, ou com alucinações? Não, a
estranha imagem que manchava o chão parecia de fato o esboço de uma pintura, um
retrato.
Com o correr dos dias a imagem foi ganhando
detalhes e a noticia do rosto misterioso espalhou-se com rapidez pela pequena
aldeia de Belmez, perto de Cordoba, no sul da Espanha. Alarmados pela imagem
inexplicável e incomodados com o crescente número de curiosos, os Pereira
decidiram destruir o rosto; seis dias depois que este apareceu, o filho de
Maria, Miguel, quebrou o chão a marretadas. Fizeram novo cimento e a vida dos
Pereira voltou ao normal.
Mas não por muito tempo. Em uma semana, um novo
rosto começou a se formar, no mesmo lugar do primeiro. Esse rosto,
aparentemente de um homem de meia idade, era ainda mais detalhado. Primeiro
apareceram os olhos, depois o nariz, os lábios e o queixo.
Já não havia como manter os curiosos a distância.
Centenas de pessoas faziam fila fora da casa todos os dias, clamando para ver a
"Casa dos Rostos". Chamaram a policia para controlar as multidões.
Quando a noticia se espalhou, resolveu-se preservar a imagem. Os Pereira
recortaram cuidadosamente o retrato e puseram em uma moldura, protegida com
vidro, pendurando-o então ao lado da lareira.
Antes de consertar o chão os pesquisadores cavaram
o local e acharam inúmeros ossos humanos, a quase três metros de profundidade.
Acreditou-se que os rastos retratados no chão seriam dos mortos ali enterrados.
Mas muitas pessoas não aceitaram essa explicação, pois a maior das casas da rua
fora construída sobre um antigo cemitério, mas só a casa dos Pereira estava
sendo afetada pelos rostos misteriosos.
Duas semanas depois que o chão da cozinha foi
cimentado pela segunda vez, outra imagem apareceu. Um quarto rosto - de mulher
- veio duas semanas depois.
Em volta deste ultimo apareceram vários rostos
menores; os observadores contaram de nove a dezoito imagens.
Ao longo dos anos os rostos mudaram de formato,
alguns foram se apagando. E então, no inicio dos anos oitenta, começaram a
aparecer outros.
O que - ou quem - criou os rostos fantasmagóricos
no chão daquela humilde casa? Pelo menos um dos pesquisadores sugeriu que as
imagens seriam obra de algum membro da família Pereira. Mas alguns quimicos que
examinaram o cimento declararam-se perplexos com o fenômeno. Cientistas,
professores universitários, parapsicólogos, a policia, sacerdotes e outros
analisaram minuciosamente a imagem no chão da cozinha de Maria Gomes Pereira,
mas nada concluiram que explicasse a origem dos retratos.
Tesouro macabro
A história que contarei a seguir é sobre dois
amigos de infância, Pablo e José. Os dois eram mexicanos e andarilhavam em
direção de San Juan, um pequeno vilarejo na província de Chiapas.
Estava chovendo muito e os cavalos já estavam
inquietos. Pablo observara uma caverna em meio às árvores e exclamou:
"Veja José, uma gruta seca. Vamos usá-la como abrigo até a chuva
passar." José não titubeou e seguiu seu amigo até a tal gruta. Lá dentro,
os dois se abrigaram e acomodaram os cavalos. A caverna era gelada e José
sentiu um calafrio que percorreu sua espinha. "Vamos sair daqui Pablo,
esta caverna me dá arrepios." Balbuciou José tremendo de frio e medo.
"Bobagem! Lá fora podemos até morrer naquele temporal. Aqui nós estamos
secos e seguros."Retrucou Pablo.
A chuva não dava nem um sinal de cessar. José
estava impaciente e Pablo curioso com a caverna. "Vamos lá para o fundo,
estaremos mais seguros lá." Entusiasmou-se Pablo. "Estas louco homem,
podemos nos perder naquela escuridão." Protestou José. "Covarde!
Vamos lá, seja homem pelo menos uma vez nessa sua vida." Ameaçou Pablo com
um sorriso sarcástico. Mesmo temendo pela sua própria vida, José segue o amigo
até o fundo da caverna. Pablo, indo na frente, acende um fósforo e se
surpreende com o que vê. Jogado ao chão, milhares de moedas de ouro e prata e
até algumas jóias que refletiam a luz do fósforo. Junto delas, um esqueleto
humano. Pablo dá uma gargalhada e grita."Estamos ricos José, ou melhor, estou
rico José!" Virando-se imediatamente para o amigo e apontando a garrucha
diretamente para a testa dele. Pablo dá um sorriso e vê o pavor do amigo que
suplica."Não Pablo, pelo amor de Deus... nós somos amig...." E um
estrondo interrompe a voz de José. Com um tiro certeiro, Pablo espalha os
miolos do amigo no chão... "He, he, he...agora o ouro é só meu, todo
meu." Recolhendo o tesouro e colocando-o num saco, Pablo já vai até
pensando no que fazer com o dinheiro.
O tempo passa e a chuva também. Com o tesouro
devidamente embalado, Pablo sai da caverna sorrindo e gozando do cadáver do
amigo."Pena que você não poderá se divertir com este dinheiro
companheiro." Pablo coloca o saco com o tesouro no lombo do cavalo e ruma
para o vilarejo. Chegando lá, ele vai diretamente para uma pensão contabilizar
o seu achado. Euforicamente, Pablo sobe para o seu quarto mal podendo conter
sua alegria. Já no quarto, o homem tranca a porta e joga o saco no chão. Ao
abri-lo, Pablo depara-se com uma cena inesperada e pavorosa. "Não, não
pode ser !!!" Agoniza o coitado. Ao invés do tesouro, ele encontrou o
cadáver rígido de seu amigo José.
Os ruídos da morte
Extraído do Livro chamado: "O Livro dos Fenômenos Estranhos" de Charles Berlitz
Os habitantes das ilhas Samoa acreditam que, quando
a morte se aproxima, pancadas secas paranormais são ouvidas na casa da vítima.
Esse estranho fenômeno já foi chamado de ruídos da
morte, e sua existência representa mais do que mero folclore.
Genevieve B. Miller, por exemplo, sempre ouviu
esses estranhos ruídos, principalmente na infância. As pancadas ocorreram
durante o verão de 1924 em Woronoco, Massachusetts, quando sua irmã, Stephanie,
ficou acamada com uma doença misteriosa.
Enquanto a menina permanecia na cama, ruídos
estranhos, semelhantes a batidas feitas com os dedos, ecoavam pela casa. Eles
soavam de três em três, sendo que o primeiro era mais longo do que os outro
dois.
Certa vez, o pai de sra. Miller ficou tão irritado
com os ruídos que arrancou todas as cortinas das janelas da casa, culpando-as
por aquele barulho infernal. Contudo, essa demonstração de nervosismo de pouco
adiantou para terminar com aquele sofrimento.
No dia 4 de outubro, já se sabia que Stephanie
estava morrendo. Quando o médico chegou, ele também ouviu as pancadas
estranhas.
- O que é isso? - perguntou, voltando-se para
tentar descobrir a fonte do barulho.
Quando se virou novamente para a pequena paciente,
ela pronunciou suas últimas palavras e morreu. As pancadas diminuíram a
atividade após a morte de Stephanie, porém nunca chegaram a parar de todo. Elas
voltaram, ocasionalmente, quando a família se mudou para uma casa nova.
Então, em 1928, o irmão de Stephanie morreu afogado
quando a superfície congelada de um rio, sobre a qual caminhava, quebrou-se. A
partir dessa época, os ruídos da morte nunca mais foram ouvidos.
Casa mal assombrada
O ano era 1944. Carlos que antes morava em
Itaperuna - RJ, iria se mudar para Natividade, RJ. Estava a procura de uma casa
e depois de algumas visitas, encontrou uma que seria ideal para acomodar sua
família. Ao sair da casa, os vizinhos o alertaram de que ela era mal assombrada
pelo espírito do antigo morador conhecido como "Manoel Açougueiro".
Carlos que era metido a valentão ignorou os avisos dos futuros vizinhos e a
família mudou-se na semana seguinte.
Depois de um mês instalados, a mãe e os filhos
começaram a ouvir todas as noites, sem falta, às 22:00 horas em ponto, batidas na
porta. Quando iam atender, não havia ninguém e o portão ficava sempre trancado
com cadeado. Não havia tempo suficiente para alguém bater e pular o muro sem
que ninguém percebesse. Carlos que sempre chegava após às 22:00 horas, não
acreditava em tal estória.
Porém um dia, Carlos chegara mais cedo em casa e
novamente às 22:00 horas bateram na porta. Carlos correu até a porta e não
vendo ninguém por perto, gritou aos quatro cantos:
- "Manoel, é você? Se for você mesmo,
apareça."
Para espanto de todos, nesta noite, à meia-noite o
neném acordou chorando e Carlos ao entrar no quarto viu um cachorro branco
dentro do berço. Ninguém na casa via o tal cachorro, mas Carlos insistia em
tentar bater no cachorro com umcinto e acabava por acertar o bebê.
Apesar de toda a confusão da noite, Carlos ainda
duvidava de que havia um fantasma na casa. No fim de semana, na sexta-feira,
Carlos voltou a gritar aos quatro cantos da casa, fazendo dessa vez, um desafio
ao tal fantasma.
- "Se tiver alguém aqui mesmo, que atire essas
almofadas que estão na sala para o outro quarto."
De madrugada o filho mais velho da família, que
também se chamava Carlos, acordou desesperado gritando que alguém havia atirado
almofadas em sua cabeça enquanto dormia.
Carlos no dia seguinte, procurou o Monsenhor que
providenciou a celebração de uma missa em intenção a alma de "Manoel, o
Açougueiro". Desde aquela data, nunca mais ninguém ouviu batidas na porta
da casa às 22:00 horas.
Gwarach-y-Rhibyn
O significado do nome Gwrach-y-rhibyn, literalmente
é "Bruxa da Bruma" mas é mais comumente chamada de "Bruxa da
Baba". Dizem que parece com uma velha horrenda, toda desgrenhada, de nariz
adunco, olhos penetrantes e dentes semelhantes a presas. De braços compridos e
dedos com longas garras, tem na corcunda duas asas negras escamosas, coriáceas
como a de um morcego. Por mais diferente que ela seja da adorável banshee
irlandesa, a Bruxa da Baba do País de Gales lamenta e chora quando cumpre
funções semelhantes, prevendo a morte. Acredita-se que a medonha aparição sirva
de emissária principalmente às antigas famílias galesas. Alguns habitantes de
Gales até dizem ter visto a cara dessagórgona; outros conhecem a velha
agourenta apenas por marcas de garras nas janelas ou por um bater de asas,
grandes demais para pertencer a um pássaro.
Uma antiga família que teria sido assombrada pela
Gwrach-y-rhibyn foi a dos Stardling, do sul de Gales. Por setecentos anos, até
meados do século XVIII, os Stardling ocuparam o Castelo de São Donato, no
litoral de Glamorgan. A família acabou por perder a propriedade, mas parece que
a Bruxa da Baba continuou associando São Donato aos Stardling.
Uma noite, um hóspede do Castelo acordou com o som
de uma mulher se lamuriando e gemendo abaixo de sua janela. Olhou para fora,
mas a escuridão envolvia tudo. Em seguida ouviu o bater de asas imensas. Os
misteriosos sons assustaram tanto o visitante que este voltou para cama, não
sem antes acender uma lâmpada que ficaria acesa até o amanhecer. Na manhã
seguinte, indagando se mais alguém havia ouvido tais barulhos, a sua anfitriã
confirmou os sons e disse que seriam de uma Gwrach-y-rhibyn que estava avisando
de uma morte na família Stardling. Mesmo sem haver um membro da família morando
mais no casarão, a velha bruxa continuava a visitar a casa que um dia fora dos
Stardling. Naquele mesmo dia, ficou-se sabendo que o último descendente direto
da família estava morto.
A Virgem do Poço
Havia no Japão Feudal do século XVII uma bela jovem
de nome Okiko. Essa jovem era serva de um Grande Senhor de Terras e Exércitos,
seu nome era OyamaTessan. Okiko que era de uma família humilde, sofria assédios
diários de seu Mestre, mas sempre conseguia se manter longe de seus braços.
Cansado de tantas recusas, Tessan arquitetou um plano sórdido para que Okiko se
entregasse à ele. Certo dia, Tessan entregou aos cuidados de Okiko uma sacola
com 9 moedas de ouro holandesas -mas dizendo que havia 10 moedas- para que as
guardasse por um tempo. Passado alguns dias, Tessan
pediu que a jovem devolvesse as "10" moedas. A donzela, ao constatar
que só havia 9 moedas, ficou desesperada e contou as moedas várias vezes para
ver se não havia algum engano. Tessan se mostrou furioso com o
"sumiço" de uma de suas moedas, mas disse que se ela o aceitasse como
marido, o erro seria esquecido. Okiko pensou a respeito e decidiu que seria
melhor morrer do que casar com seu Mestre. Tessan furioso com tal repúdio,
agarrou a jovem e a jogou no poço de sua propriedade. Okiko morreu na hora.
Depois do ocorrido, todas as noites, o espectro de
Okiko aparecia no poço com ar de tristeza, pegava a sacola de moedas e as
contava... quando chegava até a nona moeda, o espectro suspirava e desaparecia.
Tessan assistia aquela melancólica cena todas as noites, e torturado pelo
remorso, pediu ajuda à um amigo para dar um fim àquela maldição.
Na noite seguinte, escondido entre os arbustos
perto do poço, o amigo de Tessan esperou a jovem aparecer para dar fim ao
sofrimento de sua alma. Quando o fantasma contou as moedas até o 9, o rapaz
escondido gritou: ...10!!! O fantasma deu um suspiro de alívio e nunca mais
apareceu.
Essa Lenda do século XVIII, é uma das mais famosas
do folclore japonês.
O Melhor Amigo do Homem
No interior de Minas contam uma história de um
sujeito que perdeu-se em uma mata. ficou vagando por dias, sem água ou comida.
Todo maltrapilho e à beira da morte viu de longe em uma clareira um cão que
latia para ele. Por um momento pensou que fosse uma alucinação causada pelo seu
estado debilitado. Chegando mais perto, pode ver que se tratava de um cão de
verdade que se afastava a passos lentos cada vez que o sujeito se aproximava.
Pensou então com ele: "Se há um cachorro aqui,
devo estar perto de alguma habitação. Alguém deve morar por perto. Vou
segui-lo."
Andou na direção do animal, que se afastava como
que mostrando um caminho para o homem. Após alguns horas o sujeito pode ver uma
pequena casinha mal construída, feita de barro e palha, onde um casal sentado à
porta, conversava sobre amenidades.
Feliz e desesperado, o homem correu na direção dos
dois moradores, sentindo-se salvo.
Assustados, os dois receberam o homem tentando
entender o que havia se passado. Depois de beber um pouco d'água e se
recuperar, o sujeito contou a história, falando do cachorro que o havia guiado
pela mata até o local onde estava agora.
Entreolhando-se, os dois moradores desconfiaram da
história, dizendo que não havia nenhum cachorro pelas redondezas. Ele, então,
se propôs a levar os dois céticos ao local onde havia visto o cachorro pela
primeira vez.
Ao chegar lá, nada viram a não ser uma cruz sobre
uma cova rasa, que o morador informou tratar-se do túmulo do filho, que havia
sido assassinado por uma matilha de lobos.
O Baile
Era um sábado à noite... O baile iria começar às
23:00hs. Todos chiques, bem arrumados, vestidos para uma noite de gala.
Mulheres lindas, homens charmosos.
Richard tinha ido ao baile sozinho. Não tinha
namorada, apesar de ser muito bonito. No baile conheceu uma moça muito bonita
que estava sozinha e procurava alguém com quem dançar.
Richard dançou com ela a noite toda, e conversaram
por muito tempo. Acabaram se apaixonando naquela noite, mas tudo só ficou na
conversa e no romantismo. No final do baile, Richard prometeu que levaria a
moça embora, mas de repente ela sumiu. Ele procurou-a por todo o salão por
muito tempo. Como não encontrou, desistiu e foi embora.
No caminho para sua casa, ainda muito triste, ele
passou em frente ao cemitério e viu a moça entrando lá. Desconfiou do que tinha
visto... suspeitou que fosse o cansaço e que estivesse sonhando.
Quando Richard chegou em casa, ele não conseguia
dormir, nem parava de pensar na cena que tinha visto da moça entrando no
cemitério.
Quando amanheceu o dia, Richard não se conteve e
foi ao cemitério. Estava vazio e ele não encontrou ninguém. Passando por um dos
túmulos, ele encontrou a foto da garota, vestida como no baile. E lá estava
registrado que ela tinha morrido há dez anos.
E um detalhe: Ninguém viu a moça com que Richard
dançou a noite toda, a não ser ele. Ninguém mais viu a tal mulher entrando ou saindo.
A CASA DO PESADELO
A estrada pela
qual eu seguia em meu carro deu num campo aberto, deixando o bosque para trás.
O sol estava se pondo. A
fazenda mais próxima tinha um caminho cinzento que a ligava à estrada.
Acelerei o carro para
chegar o quanto antes à casa e entender o que estava acontecendo, mas corri
demais: meu carro derrapou e se estabacou contra uma árvore.
Levantei-me sem maior
dificuldade e fui examiná-lo. Ficara imprestável. Já era quase noite e eu já
começava a ficar aflito quando apareceu um garoto correndo pelo caminho da
casa. Vestia, como era típico do lugar, uma camisa marrom aberta no peito.
Tinha uma expressão que me incomodava um pouco, porque seu lábio era rasgado.
Quando chegou ao local do acidente, ele não disse nada, mas logo lhe perguntei:
- Onde fica a oficina mais
próxima?
- A oito milhas daqui,
senhor. – respondeu com uma péssima pronúncia, por causa do defeito no lábio.
Como a noite já estava
caindo, pedi-lhe:
- Posso passar a noite em
sua casa?
- Claro, se o senhor
quiser. Mas a casa está bem desarrumada, porque papai não está e mamãe morreu
há três anos. Tem pouca comida.
- Não tem importância.
Trouxe algumas provisões. – retruquei e fomos juntos à sua casa.
No caminho até a sua
casa senti uma brisa estranha, um cheiro de vegetação desagradável. Ao chegar
vi que tudo estava mesmo muito largado.
O garoto me instalou
amavelmente num quarto pegado à entrada. Como não havia luz na casa toda, peguei
três velas na minha mala. Serviram-me para iluminar meu quarto e a cozinha. Mal
me acomodei, acendi a lareira e comecei a preparar o jantar com o que trazia. O
garoto comentou que já havia jantado e não estava com fome. Achei estranho para
um garoto da sua idade, ainda mais com aquele aspecto de quem passava
necessidades, mas eu não quis dizer nada. Aproximou-se do fogo e pôs-se a
aquecer as mãos.
- Está com frio? –
perguntei.
- Sempre estou.
Aproximou-se tanto
das chamas da lareira que temi fosse se queimar, mas ele parecia não sentir o
fogo. Preparado o jantar, pus a mesa na cozinha mesmo e jantei – sozinho e
rápido. Conversamos um pouco, porque não era tarde, e o garoto me acompanhou à
varanda. Sentou-se no chão, enquanto eu me embalava gostosamente numa cadeira
de balanço.
- O que você faz quando seu
pai não está? – perguntei.
- Nada, só deixo o tempo
passar. Ninguém nunca vem nos visitar. A gente daqui diz que essa casa é
mal-assombrada.
- Você já viu algum
fantasma? – perguntei intrigado.
- Ver, eu nunca vi. Mas
posso senti-los.
De repente, senti como se
um fino véu deslizasse suavemente pelo meu rosto. Levantei-me de repente.
- Ei! Você viu? – exclamei
confuso.
- Não vi nada. O que foi?
- Não sei... Um véu. Roçou-me no
rosto – expliquei.
- Não tenha medo. Deve ser um dos
fantasmas que correm pela casa. Na certa é minha mãe. – disse ele
tranquilamente.
Naquele momento,
achei que o garoto não regulava bem. Despedi-me dele, desejei-lhe boa noite e
fui dormir, agora já meio desconfiado. Caí num sono profundo mas, passado um
bom tempo, um sonho arrepiante me acordou. Um pesadelo terrível: ali mesmo, no
meu quarto, uma enorme fera, como que um javali disforme, de presas
ameaçadoras, grunhia diante de mim. Tinha uma atitude muito agressiva e pusera
suas patas na cama, a ponto de pular em cima de mim.
Acordei suando,
apavorado. Não consegui mais dormir. Quis chamar o garoto, e só
então me dei conta de que não sabia seu nome. Não tinha pensado em perguntá-lo
e ele não tinha se apresentado. Gritei ‘oi’ repetidas vezes, mas ninguém
respondeu. Só ouvi o eco dos meus gritos entre aquelas paredes vazias. Sentia
meu coração bater como se fosse sair pela boca.
Não estava gostando nada
daquilo. Resolvi então ir embora daquela casa sem perder nem mais um minuto.
Para não ser mal agradecido, deixei algum dinheiro em cima da mesa da cozinha.
Saí, segui a estrada a pé, decidido a encontrar a tal oficina. O sol já tinha
raiado quando cheguei à primeira fazenda. Um homem veio ao meu encontro.
Contei-lhe meu acidente de
automóvel da noite anterior e ele me perguntou onde tinha passado a noite. Ao
lhe explicar onde tinha dormido, olhou para mim com cara de incredulidade.
- Como é que lhe passou pela
cabeça entrar ali? Não sabe o que dizem dessa casa?
- O garoto me levou – respondi.
- Que garoto?
- O do lábio rasgado – afirmei
com segurança.
Com cara de quem havia
compreendido tudo, me perturbou com suas palavras:
- Desta vez não há dúvida.
Esse garoto que o levou até a casa é um fantasma. Você não sabia, não é? Ele
morreu há seis meses.
(
A casa do pesadelo, de Edward White. Em O grande livro do medo )
MARIA ANGULA
Maria
Angula era uma menina alegre e viva, filha de um fazendeiro de Cayambe. Era
louca por uma fofoca e vivia fazendo intrigas com os amigos para jogá-los uns
contra os outros. Por isso, tinha fama de leva-e-traz, linguaruda e era chamada
de moleca fofoqueira.
Assim viveu
Maria Angula até os dezesseis anos, decidida a armar confusão entre os
vizinhos, sem ter tempo para aprender a preparar pratos saborosos.
Quando Maria Angula
se casou, começaram seus problemas. No primeiro dia, o marido pediu-lhe que
fizesse uma sopa de pão com miúdos, mas ela não tinha a menor idéia de como
prepará-la.
Queimando a mão com
uma mecha embebida em gordura, acendeu o carvão e levou ao fogo um caldeirão
com água, sal e colorau, mas não conseguiu sair disso: não fazia idéia de como
continuar.
Maria
lembrou-se então de que na casa vizinha morava dona Mercedes, cozinheira de
mão-cheia, e, sem pensar duas vezes, correu até lá.
- Minha cara vizinha,
por acaso a senhora sabe fazer sopa de pão com miúdos?
- Claro, dona Maria.
É assim: primeiro coloca-se o pão de molho em uma xícara de leite, depois
despeja-se este pão no caldo e, antes que ferva, acrescentam-se os miúdos.
- Só isso?
- Só, vizinha.
- Ah – disse Maria Angula –
mas isso eu já sabia!
E voou para a
sua cozinha a fim de não esquecer a receita.
No dia
seguinte, como o marido lhe pediu que fizesse um ensopado de batatas com
toicinho, a história se repetiu:
- Dona Mercedes, a
senhora sabe como se faz o ensopado de batatas com toicinho?
E como da outra vez,
tão logo sua boa amiga lhe deu todas as explicações, Maria Angula exclamou:
- Ah! É só? Mas isso
eu já sabia! – E correu imediatamente para casa a fim de prepará-lo.
Como isso
acontecia todas as manhãs, dona Mercedes acabou se enfezando. Maria Angula
vinha sempre com a mesma história: “Ah, é assim que se faz o arroz com
carneiro? Mas isso eu já sabia! Ah, é assim que se prepara a dobradinha? Mas
isso eu já sabia!”. Por isso, a mulher decidiu dar-lhe uma lição e, no dia
seguinte...
- Dona Mercedinha!
- O que deseja, dona Maria?
- Nada, querida, só que meu
marido quer comer no jantar um caldo de tripas e bucho e eu...
- Ah, mas isso é fácil
demais – disse dona Mercedes. E antes que Maria Angula a interrompesse,
continuou:
- Veja: vá ao cemitério
levando um facão bem afiado. Depois, espere chegar o último defunto do dia e,
sem que ninguém a veja, retire as tripas e o estômago dele. Ao chegar em casa,
lave-os muito bem e cozinhe-os com água, sal e cebolas. Depois de ferver uns
dez minutos, acrescente alguns grãos de amendoim e está pronto. É o prato mais
saboroso que existe.
-Ah! – disse como sempre
Maria Angula – É só? Mas isso eu já sabia!
E, num piscar de
olhos, estava ela no cemitério, esperando pela chegada do defunto mais
fresquinho. Quando já não havia mais ninguém por perto, dirigiu-se em silêncio
à tumba escolhida. Tirou a terra que cobria o caixão, levantou a tampa e...Ali
estava o pavoroso semblante do defunto! Teve ímpetos de fugir, mas o próprio
medo a deteve ali. Tremendo dos pés à cabeça, pegou o facão e cravou-o uma,
duas, três vezes na barriga do finado e, com desespero, arrancou-lhe as tripas
e o estômago. Então voltou correndo para casa. Logo que conseguiu recuperar a
calma, preparou a janta macabra que, sem saber, o marido comeu lambendo os
beiços.
Nessa mesma noite, enquanto
Maria Angula e o marido dormiam, escutaram-se uns gemidos nas redondezas. Ela
acordou sobressaltada. O vento zumbia misteriosamente nas janelas,
sacudindo-as, e de fora vinham uns ruídos muito estranhos, de meter medo em
qualquer um.
De súbito, Maria Angula
começou a ouvir um rangido nas escadas. Eram os passos de alguém que subia em
direção ao seu quarto, com um andar dificultoso e retumbante, e que se deteve
diante da porta. Fez-se um minuto de silêncio e logo depois Maria Angula viu o
resplendor fosforescente de um fantasma. Um grito surdo e prolongado paralisou
- Maria Angula,
devolva as minhas tripas e o meu estômago, que você roubou de minha santa
sepultura!
Aterrorizada, Maria Angula
escondeu-se debaixo das cobertas para não vê-lo, mas imediatamente sentiu umas
mãos frias e ossudas puxarem-na pelas pernas e arrastarem-na gritando:
- Maria Angula,
devolva as minhas tripas e o meu estômago, que você roubou de minha santa
sepultura!
Quando Manuel
acordou, não encontrou mais a esposa e, muito embora tenha procurado por ela em
toda parte, jamais soube do seu paradeiro.
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