segunda-feira, 25 de abril de 2016

O HOMEM TROCADO

O homem trocado

O homem acorda da anestesia e olha em volta. Ainda está na sala de
recuperação. Há uma enfermeira do seu lado. Ele pergunta se foi tudo bem.
- Tudo perfeito - diz a enfermeira, sorrindo.
- Eu estava com medo desta operação...
- Por quê? Não havia risco nenhum.
- Comigo, sempre há risco. Minha vida tem sido uma série de enganos...
E conta que os enganos começaram com seu nascimento. Houve uma troca
de bebês no berçário e ele foi criado até os dez anos por um casal de
orientais, que nunca entenderam o fato de terem um filho claro com olhos
redondos. Descoberto o erro, ele fora viver com seus verdadeiros pais. Ou
com sua verdadeira mãe, pois o pai abandonara a mulher depois que esta não
soubera explicar o nascimento de um bebê chinês.
- E o meu nome? Outro engano.
- Seu nome não é Lírio?
- Era para ser Lauro. Se enganaram no cartório e...
Os enganos se sucediam. Na escola, vivia recebendo castigo pelo que não
fazia. Fizera o vestibular com sucesso, mas não conseguira entrar na
universidade. O computador se enganara, seu nome não apareceu na lista.
- Há anos que a minha conta do telefone vem com cifras incríveis. No mês
passado tive que pagar mais de R$ 3 mil.
- O senhor não faz chamadas interurbanas?
- Eu não tenho telefone!
Conhecera sua mulher por engano. Ela o confundira com outro. Não foram
felizes.
- Por quê?
- Ela me enganava.
Fora preso por engano. Várias vezes. Recebia intimações para pagar dívidas
que não fazia. Até tivera uma breve, louca alegria, quando ouvira o médico
dizer:
- O senhor está desenganado.
Mas também fora um engano do médico. Não era tão grave assim. Uma
simples apendicite.
- Se você diz que a operação foi bem...
A enfermeira parou de sorrir.
- Apendicite? - perguntou, hesitante.
- É. A operação era para tirar o apêndice.
- Não era para trocar de sexo?

Após ler a Crônica responda as perguntas no caderno (aula Programada 21/5)

 1) Nas crônicas de humor, é comum haver uma situação inicial ou uma fala que gera outras situações de humor. Na crônica "O homem trocado", a partir de que fala do protagonista são introduzidas as várias situações engraçadas que ocorreram com ele?
 2)A crônica de humor é quase sempre um texto curto, como poucas personagens. O tempo e o espaço são limitados. Na crônica em estudo:
a) Quais são as personagens principais envolvidas na história?
b) O protagonista é tratado de modo superficial, como se fosse um indivíduo como, ou é tratado de modo mais aprofundado psicologicamente? Por quê?
c) Onde a história acontece?
d) Qual é o tempo de duração da história?

3) A crônica de humor normalmente apresenta situações rápidas, em que a fala das personagens assume um papel importante para a construção da história.
a) Que tipo de discurso predomina na crônica lida: o direto ou indireto?
b)O que o emprego desse tipo de discurso confere à narrativa? Justifique sua resposta. 

4)Na crônica de humor o narrador pode ser observador ou personagem. Qual é o tipo de narrador presente na crônica "O homem trocado"? Justifique a sua resposta. 

5) A crônica de humor normalmente se encaminha para um desfecho inesperado.
a) Na crônica "O homem trocado", qual é a surpresa final?
b) Há, antes do final da história, alguma pista explícita desse desfecho?
c) Se houvesse antecipação do desfecho, o texto continuaria engraçado?
d) Essa característica da crônica de humor aproxima-se de outro gênero textual cuja finalidade é divertir. Que gênero é esse?

domingo, 24 de abril de 2016

Técnicas de Redação

TÉCNICAS DE REDAÇÃO

1. Leitura: O candidato deve saber que não existe “receita de bolo” para escrever bem e que não se pode passar a escrever com maestria de um momento para o outro. É um processo que vai depender do esforço de cada um, mas, geralmente, só é bom escritor quem for um bom leitor. Portanto, ler é o principal caminho.

2. Correção: Não adianta fazer uma redação por dia e cometer os mesmos erros em todas elas. Sempre que possível, peça ajuda a um professor de língua portuguesa, ou a alguém com algum conhecimento na área para fazer a correção e apontar os erros.

3. Linhas: Respeite o número mínimo, bem como o máximo de linhas estipulado pela banca. Em uma redação de 20 a 30 linhas, o ideal é que se redija acima de 25 linhas, sem ultrapassar a marca de 30 linhas. Toda linha escrita a mais será desprezada pela banca.

4. Parágrafos: Uma redação de 20 a 30 linhas deve conter, no mínimo, quatro parágrafos e, no máximo, cinco. Um parágrafo para introdução, de dois a três parágrafos de desenvolvimento, e um para a conclusão.

5. Objetividade: Não se esqueça da objetividade: o enfoque do assunto deve ser direto, sem rodeios. Não use expressões introdutórias meramente formais, ou simplesmente chavões sem utilidade prática. O uso de expressões ou conectores muito rebuscados, muitas vezes, desagrada aos examinadores. As bancas dão preferência a uma linguagem simples e objetiva.

6. Releitura: Ao término da redação, leia ao menos duas vezes o texto – a primeira para verificar se sua estruturação foi respeitada e a outra leitura para se certificar de que não houve falhas quanto à gramática. Ter conteúdo é importante, mas o que vai garantir a qualidade de sua redação é a organização, clareza e objetividade.

7. Forma: O candidato não pode esquecer que deve usar letra legível, deve marcar os parágrafos com recuo de aproximadamente dois centímetros margem, usar hífen ou sublinhado na separação silábica e não pular linha entre um parágrafo e outro, ou entre o título (caso seja solicitado que se dê um título) e o primeiro parágrafo.

8. Título: Só utilize título se houver determinação da banca. Nem todas as bancas organizadoras de concursos pedem título. Caso seja exigido, o título deverá ser uma frase nominal — sem verbo. Também não deve vir seguido de ponto.
9. Frases: Frases muito longas devem ser evitadas. O ponto final deve ser utilizado com mais frequência. Letras maiúsculas e minúsculas usadas indevidamente e o excesso de adjetivos são comuns e podem levar à perda de pontos. Há três pontos essenciais: coesão, coerência e concordância verbo nominal.

10. Início: Outra dica dos especialistas é começar a prova pela redação, que normalmente tem participação de 50% a 60% na composição da nota. Também é recomendado tomar cuidado com o uso de rascunho, já que é comum pular palavras na hora da cópia ou modificar o que anteriormente estava escrito.

11. Atualização: Geralmente, nas provas de redação, são abordados temas da atualidade ou algum assunto desafiante para o cargo ao qual o candidato está concorrendo. Por isso, é importante que o candidato esteja a par dos acontecimentos. O ideal é que leia jornais, revistas e informativos dos órgãos para onde fará concurso.

12. No lugar do outro: É importante, também, o candidato pensar e se colocar na posição do leitor, e sempre se perguntar: o que escrevi é interessante é de fácil entendimento?



Leia mais sobre esse assunto em
 http://oglobo.globo.com/emprego/doze-dicas-para-se-preparar-para-prova-de-redacao-em-concursos-7429292#ixzz2b83NbgQt 
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terça-feira, 5 de abril de 2016

A Menina dos Fósforos

        A menina dos fósforos

Estava tanto frio! A neve não parava de cair e a noite aproximava-se. Aquela era a última noite de Dezembro, véspera de Natal. Perdida no meio do frio intenso e da escuridão, uma pobre menininha seguia pela rua, com a cabeça descoberta e os pés descalços. É certo que ao sair de casa trazia um par de chinelos, mas não duraram muito tempo, porque eram uns chinelos que já tinham pertencido à mãe, e ficavam-lhe tão grandes, que a menina os perdeu quando teve de atravessar a rua a correr para fugir de uma carruagem. Um dos chinelos desapareceu no meio da neve, e o outro foi apanhado por um garoto que o levou, pensando fazer dele um berço para a irmã mais nova brincar.
Por isso, a menininha seguia com os pés descalços e já roxos de frio; levava no avental uma quantidade de fósforos, e estendia um maço deles a toda pessoa que passava, apregoando: — Quer comprar fósforos bons e baratos? — Mas o dia tinha-lhe corrido mal. Ninguém comprara os fósforos, e, portanto, ela ainda não conseguira ganhar um tostão. Sentia fome e frio, e estava com a cara pálida e as faces encovadas. Pobre menininha! Os flocos de neve caíam-lhe sobre os cabelos compridos e loiros, que se encaracolavam graciosamente em volta do pescoço magrinho; mas ela nem pensava nos seus cabelos encaracolados. Através das janelas, as luzes vivas e o cheiro da carne assada chegavam à rua, porque era véspera de Natal. Nisso, sim, é que ela pensava.
Sentou-se no chão e encolheu-se no canto de um portal. Sentia cada vez mais frio, mas não tinha coragem de voltar para casa, porque não havia vendido um único maço de fósforos, e não podia apresentar nem uma moeda, e o pai era capaz de lhe bater. E afinal, em casa também não havia calor. A família morava numa casa simples de madeira, e o vento metia-se pelos buracos das telhas, apesar de terem tapado com farrapos e palha as fendas maiores. Tinha as mãos quase paralisadas com o frio. Ah, como o calorzinho de um fósforo aceso lhe faria bem! Se ela tirasse um, um só, do maço, e o acendesse na parede para aquecer os dedos! Pegou num fósforo e: Fcht!, a chama espirrou e o fósforo começou a arder! Parecia a chama quente e viva de uma lareira, quando a menina a tapou com a mão. Mas, que luz era aquela? A menina julgou que estava sentada em frente de um fogão de sala cheio de ferros rendilhados, com um guarda-fogo de cobre reluzente. A luz ardia com uma chama tão intensa, e dava um calor tão bom! Mas, o que se passava? A menina estendia já os pés para se aquecer, quando a chama se apagou e o fogão desapareceu. E viu que estava sentada sobre a neve, com a ponta do fósforo queimado na mão.
Riscou outro fósforo, que se acendeu e brilhou, e o lugar em que a luz batia na parede tornou-se transparente como tule. E a menininha viu o interior de uma sala de jantar onde a mesa estava coberta por uma toalha branca, resplandecente de louças finas, e mesmo no meio da mesa havia um ganso assado, com recheio de ameixas e puré de batata, que fumegava, espalhando um cheiro apetitoso. Mas, que surpresa e que alegria! De repente, o ganso saltou da travessa e rolou para o chão, com o garfo e a faca espetados nas costas, até junto da menininha. O fósforo apagou-se, e a pobre menina só viu na sua frente a parede negra e fria.
E acendeu um terceiro fósforo. Imediatamente se encontrou ajoelhada debaixo de uma enorme árvore de Natal. Era ainda maior e mais rica do que outra que tinha visto no último Natal, através da porta envidraçada, da casa de um rico comerciante. Milhares de velinhas ardiam nos ramos verdes, e figuras de todas as cores, como as que enfeitam as lojas, pareciam sorrir para ela. A menina levantou ambas as mãos para a árvore, mas o fósforo apagou-se, e todas as velas de Natal começaram a subir, a subir, e ela percebeu então que eram apenas as estrelas a brilhar no céu. Uma estrela maior do que as outras desceu em direção à terra, deixando atrás de si um comprido rasto de luz.
«Foi alguém que morreu», pensou a menina; porque a avó, a única pessoa que tinha sido boa para ela, mas que já não era viva, dizia-lhe muita vez: «Quando você ver uma estrela cadente, é uma alma que vai a caminho do céu.»
Esfregou ainda mais outro fósforo na parede: fez-se uma grande luz, e no meio apareceu a avó, de pé, com uma expressão muito suave, cheia de felicidade!
— Vovó! — gritou a menina — me leve contigo! Quando este fósforo se apagar, eu sei que já não estarás aqui. Vais desaparecer como o fogão de sala, como o ganso assado, e como a árvore de Natal, tão linda.
Riscou imediatamente o punhado de fósforos que restava daquele maço, porque queria que a avó continuasse junto dela, e os fósforos espalharam em redor uma luz tão brilhante como se fosse dia. Nunca a avó lhe parecera tão alta nem tão bonita. Tomou a neta nos braços e, soltando os pés da terra, no meio daquele resplendor, voaram ambas tão alto, tão alto, que já não podiam sentir frio, nem fome, nem desgosto, porque tinham chegado ao reino de Deus.
Mas ali, naquele canto, junto do portal, quando rompeu a manhã gelada, estava caída uma menininha, com as faces roxas mas com um lindo sorriso nos lábios… morta de frio! A noite de Natal passou, indiferente ao pequenino cadáver, que ainda tinha na pequenina mão, um punhado de fósforos. — Coitadinha, parece que tentou aquecer-se! — exclamou alguém. Mas nunca ninguém soube quantas coisas lindas a menina viu à luz dos fósforos, nem o calor que ela sentiu, na companhia da avó, na noite de Natal.
                                                                                              Autor: Hans Christian Andersen