segunda-feira, 8 de agosto de 2016

ATIVIDADE PARA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DO 1° ANO ---- 7/8 à 15/8 

MEU PROFESSOR INESQUECÍVEL      


Mesmo antes de saber ler eu já vivia num mundo de histórias, que meu pai, um gráfico, me contava. A realidade para mim resumia-se em escovar os dentes e amarrar os sapatos. O resto, fantasia das mil e uma noites e de mil historietas infantis. Algumas, ele próprio inventava, mas não era seu forte. Geralmente fazia a maior confusão, improvisando finais que nenhuma relação tinham com o princípio. Sua memória nunca foi grande coisa. [...] Tendo terminado seu trabalho, íamos para o fundo do quintal. Toda casa tinha um, comprido e arborizado. [...]      
Íamos felizes para o extremo da casa e sentávamos sobre caixotes. Eu adorava suas histórias [...].      
- Como acaba a história, pai?     
- Qual?      
- A que está contando.      
- Refere-se à Branca de Neve?      
- Essa o senhor já contou, mas pode contar outra vez.      
- Bem, o Lobo Mau andava pela floresta de olho na Branca de Neve. Seguia a menina por toda parte, o malvado.      
Estranhei.      
- Não foi esse lobo que comeu a avozinha de Chapeuzinho Vermelho?      
Meu pai hesitou. Era ou não era? Eu exigia.      
- Primo dele.      
- A inimiga da Branca de Neve não era a bruxa? [...]      
- E quem diz que não? Diabo de bruxa.      
- O que o lobo faz nessa história?      
- Pergunta oportuna. Ele passava pela floresta, como se não quisesse nada, quando viu a menina com os cinco anões.    
- Sete anões, pai.    
- No momento eram cinco. Dois estavam em casa com gripe. Tinham tomado muito sorvete. E cuidado você também com os gelados. Mas o lobo se deu mal porque o Pequeno Polegar, usando um estilingue, deu cabo dele. Dias depois a Branca de Neve e o Pequeno Polegar casavam-se.      
- Ela não casou com um príncipe, pai? [...]      
- Um príncipe?    
- Sim, foi com um príncipe.    
- Em segundas núpcias – esclareceu. – Coisas da vida.    
Algum tempo depois, com o auxílio de uma cartilha, ele me ensinou a ler, tarefa então mais complicada porque cavalo era assim- cavallo. Farmácia era assim – pharmacia. Ontem era hontem. E a cidade de Niterói escrevia-se Nictheroy.      
Dentro de casa, porém, não me sentia ainda alfabetizado. O prazer da leitura eu descobriria, também com ele, nos anúncios expostos no interior dos bondes, os reclames, como então dizíamos. Notadamente no camarão, o bonde fechado, apelido derivado de sua cor vermelha. Silabando, eu lia os anúncios um a um. Na maioria remédios. Capivarol, Biotônico Fontoura, Xarope São João. Eu e todo mundo porque a própria propaganda, uma novidade, chamava a atenção geral. Os bondes era uma cartilha animada para os meninos daquela geração.      
[...] Foi ele quem ergueu o dedo, apontando-me o Martinelli, ainda em andaimes. Levou-me para conhecer o Viaduto do Chá e presenciar a abertura da Nove de Julho. Outra de suas paixões citadinas eram os bairros ricos. Aos domingos, pela manhã, costumava passear à sombra das mansões dos barões do café, em Higienópolis. Quando via uma delas desocupada, dava um jeito de visitá-la. Lembro-me de nós percorrendo uma infinidade de cômodos vazios de um verdadeiro palácio. Ele punha os olhos em tudo, observando os detalhes da construção. Amava lustres, escadas de mármore e ladrilhos portugueses. Nos banheiros exultava se as torneiras fossem douradas. Homem exigente. Requintado, sim.


(Marcos Rey.)

Vamos analisar o texto justificando a resposta da pergunta:

Nesta narrativa, o narrador apresenta o pai como seu primeiro e inesquecível professor.Por que os fatos narrados foram inesquecíveis para o narrador ?
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