ATIVIDADE PARA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DO 1° ANO ----
7/8 à 15/8
MEU PROFESSOR INESQUECÍVEL
Mesmo antes de saber ler eu já vivia num mundo de histórias, que
meu pai, um gráfico, me contava. A realidade para mim resumia-se em escovar os
dentes e amarrar os sapatos. O resto, fantasia das mil e uma noites e de mil
historietas infantis. Algumas, ele próprio inventava, mas não era seu forte.
Geralmente fazia a maior confusão, improvisando finais que nenhuma relação
tinham com o princípio. Sua memória nunca foi grande coisa. [...] Tendo
terminado seu trabalho, íamos para o fundo do quintal. Toda casa tinha um,
comprido e arborizado. [...]
Íamos felizes para o extremo da casa e sentávamos sobre caixotes.
Eu adorava suas histórias [...].
- Como acaba a história,
pai?
- Qual?
- A que está contando.
- Refere-se à Branca de Neve?
- Essa o senhor já contou, mas pode contar outra vez.
- Bem, o Lobo Mau andava pela floresta de olho na Branca de Neve.
Seguia a menina por toda parte, o malvado.
Estranhei.
- Não foi esse lobo que comeu a avozinha de Chapeuzinho Vermelho?
Meu pai hesitou. Era ou não era? Eu exigia.
- Primo dele.
- A inimiga da Branca de Neve não era a bruxa? [...]
- E quem diz que não? Diabo de bruxa.
- O que o lobo faz nessa história?
- Pergunta oportuna. Ele passava pela floresta, como se não
quisesse nada, quando viu a menina com os cinco anões.
- Sete anões, pai.
- No momento eram cinco. Dois estavam em casa com gripe. Tinham
tomado muito sorvete. E cuidado você também com os gelados. Mas o lobo se deu
mal porque o Pequeno Polegar, usando um estilingue, deu cabo dele. Dias depois
a Branca de Neve e o Pequeno Polegar casavam-se.
- Ela não casou com um príncipe, pai? [...]
- Um príncipe?
- Sim, foi com um príncipe.
- Em segundas núpcias – esclareceu. – Coisas da vida.
Algum tempo depois, com o auxílio de uma cartilha, ele me ensinou
a ler, tarefa então mais complicada porque cavalo era assim- cavallo. Farmácia
era assim – pharmacia. Ontem era hontem. E a cidade de Niterói escrevia-se Nictheroy.
Dentro de casa, porém, não me sentia ainda alfabetizado. O prazer
da leitura eu descobriria, também com ele, nos anúncios expostos no interior
dos bondes, os reclames, como então dizíamos. Notadamente no camarão, o bonde
fechado, apelido derivado de sua cor vermelha. Silabando, eu lia os anúncios um
a um. Na maioria remédios. Capivarol, Biotônico Fontoura, Xarope São João. Eu e
todo mundo porque a própria propaganda, uma novidade, chamava a atenção geral.
Os bondes era uma cartilha animada para os meninos daquela geração.
[...] Foi ele quem ergueu o dedo,
apontando-me o Martinelli, ainda em andaimes. Levou-me para conhecer o Viaduto
do Chá e presenciar a abertura da Nove de Julho. Outra de suas paixões
citadinas eram os bairros ricos. Aos domingos, pela manhã, costumava passear à
sombra das mansões dos barões do café, em Higienópolis. Quando via uma delas
desocupada, dava um jeito de visitá-la. Lembro-me de nós percorrendo uma
infinidade de cômodos vazios de um verdadeiro palácio. Ele punha os olhos em
tudo, observando os detalhes da construção. Amava lustres, escadas de mármore e
ladrilhos portugueses. Nos banheiros exultava se as torneiras fossem douradas.
Homem exigente. Requintado, sim.
(Marcos Rey.)
Vamos analisar o texto justificando a resposta da pergunta:
Nesta narrativa, o narrador apresenta o pai como seu primeiro e inesquecível professor.Por que os fatos narrados foram inesquecíveis para o narrador ?
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